quarta-feira, 19 de maio de 2010

Gata de almofada

Eu não acho graça o tempo todo, muitas vezes eu me sinto cansada e abatida. Mas se me perguntarem eu direi... Tô óóóótima.
Tenho uma elaborada versão que dá sustento a minha vida, muito longe de ser a verdade, mais distante ainda de ser felicidade, mas que, se desacreditada, seria o meu caos total, porque eu aprendi que o fato não importa, o que vale mesmo é a versão.
Uma boa versão sobre si mesmo já é um bom começo. Invisto nisso diariamente num exercício árduo de sobrevivência, tentando dar credibilidade de que aceito as minhas mazelas, que “tô de boa” com a vida que tenho; que tudo é puro divertimento, que nada me falta, e que não há situação que apague o meu sorriso ou destrua minha confiança.
Mas se isso é apenas uma elaborada versão de fatos, que essa versão convença, antes mesmo de mim, a todos.
E é assim que tem que ser.

Tô óóóótima!!!!!!!!!!!

Mas veja bem, até da pra ser feliz assim por algum tempo, mas não o tempo todo, porque versão é versão, verdade é outra coisa.
Acha mesmo que eu estou nessa vida por escolha?
Porque eu prefiro ser livre, ser dona do meu nariz, falar o que me der na telha quando quiser, trabalhar feito uma camela pra ser bem sucedida e ter orgulho de garantir o meu próprio sustento, ser independente, brincar com homens que nem sabem o meu nome, dar murro em ponta de faca, brigar com marmanjos como se eu não tivesse medo de cara feia, viver antenada, negociar e renegociar com gerente de banco???
Eu heim??? Hellowwww
Claro que não... isso tudo é só a versão que me faz feliz .
Na verdade.... O que eu queria mesmo era ser GATA DE ALMOFADA.
Conhece??? GATA DE ALMOFADA???
Aquela bichinha que tem um dono, que lhe provêm todas as necessidades.
Que usa pingente de diamante pendurado na coleira, bem tratadinha, toda escovadinha, bem cheirozinha... doce e mimosa,
Aquela que a única coisa com a qual tem de se preocupar é ronronar se esfregando em sua fofa e confortável almofada chinesa de seda pura, enquanto recebe o carinho e afago do seu belo e distinto tratador dono.
Aquela gatinha, que no máximo vai espreguiçar-se lentamente sob comando e chamado dele. ROMROM....

Eu nasci pra ser uma linda charmosa e fresca gata de almofada. Não tive competência pra me estabelecer nessa categoria, eu era muito nova e imatura quando fiz minhas escolhas, eu acreditava que mulher feliz realizada tinha de ter essa vida de ratazana esperta, e não deixar homem posar de chefe e falar grosso.
Que besteira.
Competente, esperta e bem sucedida, é gata de almofada... eu, sou muito burra e incompetente!
Então vou nessa de vida bem resolvida pela minha própria sorte e parco juízo.
(dá esse boleto bancário que eu pago, o pneu também pode deixar que eu troco...)

Tô óóóótima!!!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Homem da minha vida

Para as mulheres da minha geração, já era aceitável sexo antes do casamento, ainda não assim, tão explicito, para ser colocado como assunto nos almoços em família, mas já havia um consentimento silencioso.
Nossas mães, quando eram muito modernas, já falavam sobre anticoncepcionais e risco de gravidez, mas essas eram raras, e muitas meninas se casaram, precocemente, por gravidez completamente fora de época.
Mas uma garota já não era considerada “perdida”, “estragada”, se tivesse transado com
o namorado.... desde que, veja bem ... desde que, o cara escolhido pra fazer sexo fosse “o homem da sua vida”, não podia haver uma distribuição farta, sem que fossemos julgadas e intituladas simplesmente.... BISCATES.
Aí, seguindo os moldes que mamãe ensinou (minha mãe era muito moderna), a maior parte de nós.... DEMOS POR AMOR.... (como se dizia naquela época).
A partir daí, coitado do sujeito!!!!..... ficava estipulado que ele era então, o tal “homem da vida da garota”, e isso, na maioria dos casos, era quase como um castigo ... COMEU... agora vai ter de casar.
Pronto... desgraça organizada pela manifestação de “liberdade” sexual daquele tempo, a garota enfiava na cabeça que aquele era o cara e não largava dele por nada deste mundo.
Casamento marcado com pompas
para virgens, a maior parte de nós (meninas-mulheres daquela época) passamos anos a fio fazendo infeliz um pobre coitado... na tentativa de transformá-lo definitivamente no que ele não era.............

O HOMEM DA MINHA VIDA..... Num po
dia dar certo, num é???

terça-feira, 4 de maio de 2010

Vida de Catarina

Existe uma Catarina no íntimo de toda mulher e, por algum momento, toda mulher já experimentou seus torpes poderes, mas só algumas fazem desta uma imagem constante.
(Se há algo de) Admirável na personalidade desse tipo, é a coragem, pois se faz necessário muita para desfilar a performática Catarina.
(Se há algo de) Inegável é sua capacidade de despertar as mais sórdidas emoções:
Nos homens:
O desejo, a paixão e a cobiça;
Nas mulheres:
A perplexidade e a ira.
Basicamente esta mulher já viveu algum glamour, mas hoje apenas se mantém sobre seus altos saltos, em postura altiva e prepotente.
No passado foi casada, teve filhos, sonhou até ser esposa e mãe, mas já possuía veia de Catarina, e jamais aceitou as regras do jogo, austera em demasia para manter qualquer relação.
Detentora de alguma maturidade, já passou por poucas e boas e, se não adquiriu experiência, já experimentou o que só o tempo pode dar.
Do que teve ate hoje, só mesmo o tempo pode reter e contar, ano a ano, dos muitos que lhe dão idade.
Além dos saltos muito altos e barulhentos sobre os quais ela literalmente marcha, suas vestes são sempre exageradas, denotando algo entre o caro–falsificado, o exótico impróprio ou vulgar.
Bonita - “não é bem o caso” – mas temerosa, por onde passa, objetivo atingido – é observada.
Não é de passar despercebida, mesmo porque toma providencias e grita no caso de tal ameaça.
Corpo escultural – “também não é o caso” – mas sabe sacolejar as partes em conjunto de forma a causar furor.
Sensual – “não é o caso” – ela é convite a sexo explícito.
Vaidosa, acho meio redundante dizer.
Gostos pessoais muito bem definidos, deixando claro que não veio mesmo para agradar.
Não é mulher de rodeios e meios termos. Ou a amam ou a odeiam.
Fala muito – “ e não é bem só este o caso” – fala alto e grosso, se abana e se debate em gestos exasperados.
Fala não só o que pensa, mas o que os outros deveriam pensar.
Tem opinião pra tudo e sua palavra de ordem é "discordo".
Discordo disso, discordo daquilo, e explica.
Sobressai-se em varias atividades, faz sempre alguma coisa a mais que mulheres mortais.
Politizada e esclarecida, sabe um pouco de tudo, o que não sabe não admite, proclamando seus conhecimentos.
Já leu muitos livros, mas diz que leu mais.
Metida a profissional qualificada – “mas só metida” - o cargo que ocupa não adquiriu por merecimento.
Centro das atenções – “não é bem o caso” – aliás, o mundo só é mundo, e existe a trocentos milhões de anos, se preparando para recebê-la. Acredita mesmo que todo o resto não passa de figuração, colocados nos devidos e exatos lugares apenas para ilustrar e dar enredo a sua historia, objetivo único da existência e criação universal.
Espiritualizada – “não é ocaso” – mas crê em Deus, foi batizada e tem formação católica; já participou de cerimônias de terreiro e admira a cultura, tem o telefone de uma mãe de santo, discute, estuda e aceita o espiritismo e tem seus guias de luz, se identifica com as teorias filosóficas do budismo, mas pratica ritual místico de sua própria criação.
Seu altar é eclético e altruísta, parecendo mesmo algo de bruxaria. A versão prega que sua pratica tem poderes sobrenaturais e que sua praga pega.
Enigmática – “não é o caso” – tem mesmo um quê de suspeito, da sua vida tudo que se diz é pura lenda.
Da sua vida e sua alma (se ela mesmo soubesse) jamais a alguém confidenciaria.
Conta apenas o oportuno, acredita que o que vale mesmo é a versão e não se importa de maneira alguma com qual seja; venha o que vier, endossa com gargalhadas histéricas.
Por suas escolhas paga caro, mas paga.
Das versões que andam nas rodas sempre restará apenas duvidas. Ela não confirma, mas também não desmente; se faz de rogada e superior, não dá satisfações a ninguém.
È sempre dúvida que a permeia, tudo então é apenas lenda.
Do que ela vive ($$): é lenda.
O que ela come: é lenda.
Com quem ela anda: é lenda.
Com quem ela dorme: é lenda.
Os títulos que sustenta, também: lenda.
Catarina sabe que tudo que há, não apenas ela, não passa de lenda e tem orgulho da lenda que escolhe viver, nesta lenda toda de vida.
Carreirista – “não é bem o caso” - admira mesmo os homens bem sucedidos, não perde tempo com quem não obteve na vida algum destaque.
“Bem é o caso” – Por ela homem nenhum colocaria a mão no fogo, por ela homem nenhum daria apenas um dedo, mas também não há caso daquele que nela não tenha desejado enfiar o mesmo dedo.
Aceita e gosta de brincar, mas só com aqueles raros e audaciosos homens que tem a coragem para enfrentá-la ou tocá-la.
Mas pra quem já sabe que não vai levar nada pra casa, prefere garotos, (menos de trinta, mais de um metro e noventa), e desses se seve fartamente.
Deles jamais espera nada.
Com resultados não se preocupa.
Vive os momentos que lhe são oferecidos e para estes é toda oferecida.
É uma vagabunda, mas profissional, sai de cena, sem sapatear, quando o momento se faz oportuno.
Acha graça do que passou e de toda a lenda que provocou.
Nunca se casa novamente, não nasceu para se curvar as necessidades do matrimonio.
Se apaixona, é claro, mas já sabe que o fim é certo, afinal ela é Catarina.
E Catarina não é mulher pra se desposar.
A ela homem algum destinará um lar.
Vive então sozinha, sempre sozinha, mas nunca a lamentar.
Analisada (vários anos de terapia), o que ela busca os bons psicólogos lhe disseram e, aliás, com um caso destes nas mãos, nadaram de braçada, na tentativa vã de lhe esfregar as verdades na cara, na tentativa de alguma realidade lhe imputar.
Mas destes Catarina discordou e quando mais não pode, trocou – e discordou e trocou – e discordou e trocou.
O que ela ganha com isso, literalmente no sentido da palavra: Nada.
O que ela perde com isso: Nada, não tem mesmo nada para perder.
(Se há algo de) Real é de fato o vazio, deixado pela elaborada e sofisticada ilusão de vida, daquela que na pia sagrada de batismo, recebeu outro nome, mas na guerra, na vida e na sina, rabisca e assina:
Catarina.